domingo, 27 de maio de 2012

Entrevista - Conhecendo um pouco melhor a vida de Robert Day


Por: Daniele Horta e Eduardo Ferreira




Nos  Estados Unidos é comum as crianças começarem desde cedo a jogar basquete. Esse foi o seu caso? Com qual idade você começou a jogar?

Eu comecei a jogar basquete quando eu tinha cerca de 10 anos, durante o tempo livre na escola. Depois de um tempo eu comecei a amar o jogo e querer jogar o tempo todo, mesmo depois de escola. Nessa época, eu também comecei a assistir jogos da NBA e saía depois de assistir a um jogo para tentar fazer o que os jogadores da NBA faziam. A primeira equipe que eu tentei eu não consegui. Eu lembro bem.  Minha mãe me disse que se eu quisesse jogar eu teria que melhorar, e isso significava praticar. Eu saia sozinho ou com meus 2 irmãos e jogava a qualquer chance que eu tinha, e quando chegaram as eliminatórias do próximo ano  eu tinha melhorado muito e consegui entrar na equipe.

Quais são seus ídolos no basquete nacional e internacional?

Robert - Meus ídolos são os caras que eu cresci assistindo. Micheal Jordan e Reggie Miller eram caras que eu assistia bastante. Eu cresci sem muito acesso ao basquete internacional, então eu só conhecia os jogadores que jogaram na NBA. Eu ainda consegui assistir um pouco de Drazen Petrovic (New Jersey nets e Portland Trailblazers)  antes de ele falecer e ele era um grande talento. Eu também gostava de assistir Sabonis Arvidis (Portland Trailblazers). Eu achava que ele tinha grande habilidade e entendimento do jogo, especialmente sendo o tão grande como ele era.

Poderia falar um pouco de todos os times que já jogou?

Profissionalmente eu começar a jogar no Torreon Algodoneros do México na temporada  04/05 e fiquei lá durante meus primeiros 2 anos. Depois do Torreon eu parei de jogar por uma temporada e meia, porque eu achei que não estava recebendo visibilidade e eu não tinha nenhuma outra opção para jogar em outro lugar. Após essa pausa  eu decidi voltar porque sentia muita falta de jogar, mas minhas únicas opções eram no México. Eu não me importava de voltar, porque eu me diverti e fiz bons amigos enquanto estive lá. Acabei assinado com o Culiacan Caballeros e joguei a segunda metade da temporada 07/08 do campeonato nacional, e também o campeonato regional, após o término do nacional. No ano seguinte, o time decidiu não jogar na liga nacional e eu tive  a oportunidade de voltar para Torreon para a temporada 08/09. Após o término dessa temporada eu assinei em Durango, também no México, para a temporada 09/10, e foi lá que conheci Lasalle, meu treinador, que foi quem me ajudou a conseguir a oportunidade de obter uma boa visibilidade fora do México. Após a temporada que joguei com ele, um agente o chamou perguntando sobre um jogador para um torneio na China com uma equipe argentina. Lasalle disse ao agente que ele deveria me levar e ele me levou. Originalmente ele estava tentando me convencer a assinar na Argentina, mas depois de todas as negociações acabei no Brasil e todos sabem a história desde então. Por todos os times para os quais joguei  já fui a 1ª, 2ª, 3ª, opção, bem como vindo do banco e eu tenho tentado aprender algo de cada experiência para melhorar o meu jogo.  



O que você mais considerou no momento de aceitar a proposta de jogar no Brasil?

Quando vim pro Brasil houve muitas coisas que eu considerei, mas a coisa mais importante foi  minha família. É um lugar que eles vão estar confortáveis? É um lugar seguro? No meu tempo no México eles iam me visitar ou eu conseguia ir para casa já que era bem perto Então ficar tão longe de casa por um tempo tão longo era diferente e eu queria que eles viessem morar comigo. Depois de fazer algumas pesquisas e de meu agente na época me garantir que eles iriam gostar, eu pude riscar essa preocupação da lista.


                                                                          Robert Day chega à Uberlândia

Como é conciliar a família com filhos pequenos e essas mudanças de país, encarando uma nova língua e cultura?

Chegar a um novo time em um novo país nunca é fácil. Imagine ir para um lugar sobre o qual você não sabe nada. “Como será viver ali?” “Espero que eles estejam lá no aeroporto quando eu chegar.” ‘Como será a comida?” “Espero me dar bem com o treinador e meus colegas de equipe.” A barreira da língua é difícil, mas me disseram que era parecido com o espanhol, que eu tinha aprendido enquanto jogava no México. Mas quando eu cheguei não parecia nem um pouco com o espanhol.  Eu sequer achei que um dia aprenderia, mas depois que aprendi os sons de cada letra aí ficou bem mais fácil. Com a comida eu não me preocupo porque gosto de experimentar coisas novas e não tem muito o que eu não goste.  O único lugar que eu não gostava da comida foi quando eu joguei em um campeonato na China. Minha família não tinha muita experiência em ficar longe de casa por longos períodos, por isso foi mais desafiador para eles. Mas com a ajuda dos meus companheiros de equipe  e suas famílias a adaptação correu bem. Minha família é um grande fator na escolha de voltar ou não para um lugar ou se devo procurar outro contrato.

Você pretende ficar no Brasil por mais tempo?

Eu adoraria ficar mais tempo no Brasil. Eu conheci amigos para a vida toda aqui e minha família ama morar no Brasil. Não vejo razões para deixar o país, a não ser que me apresentem uma oportunidade que eu realmente não possa deixar passar.

O que você mais gosta de fazer quando não está trabalhando?

Quando não estou trabalhando gosto de passar um  tempo com minha família, assistir filmes, fazer rafting, churrasco e passar um tempo com amigos.


                                                  Robert Day com a camisa do time de futebol de Uberlândia

Qual sua relação com seus companheiros de equipe?

Minha relação com meus colegas de equipe é realmente única. Estes últimos dois anos  tenho feito parte de uma equipe que gosta da companhia uns dos outros dentro e fora da quadra. Eu nunca tinha feito parte de um time onde não haviam discussões e todos se respeitavam .


                                                        Robert Day, Valtinho, Robby Collum e Cipolini

Vejo você sempre junto do Robby Collum, fazendo brincadeiras com os jogadores. Ele é seu grande amigo aqui em Uberlândia?

O Robby é um grande colega de equipe e um grande amigo. Ele é mais como um irmão para mim. Temos o mesmo senso de humor então a gente não para nunca. Nós gostamos de rir e manter o espírito da equipe leve, especialmente quando as coisas estão estressantes.

 Robert Day e Robby Collum


                                             Robby Collum e Robert Day brincam de repórter e cinegrafista no UTC


Você considera que a torcida, no basquete, faz a diferença? O que acha da torcida de Uberlândia?

Depois de passar 2 anos como jogador aqui, viajando para todos os lugares, eu acho que não existe melhor torcedor  no Brasil do que aqui em Uberlândia. Eu sinto que quando eles estão conosco nós somos muito difíceis de bater. Eu sou bastante quieto em quadra porque meu foco está no jogo, mas eu sinto a presença da torcida e isso ajuda muito.



Como é jogar em um ginásio lotado de torcedores rivais? Como você faz para se concentrar durante a partida?

Jogar em um ginásio lotado é uma experiência legal. Para mim sempre foi fácil me concentrar. O Basquete sempre foi um lugar onde eu posso libertar minha mente. Minha sogra é uma das pessoas mais barulhentas quando ela está torcendo e ela sempre me perguntava se eu podia ouvir e eu nunca conseguia. Quando estou na quadra eu estou focado no jogo e em meus companheiros. Eu ouço o barulho, mas nada específico, o que é uma coisa boa, porque as pessoas conseguem gritar umas coisas bem absurdas. (risos)  

O que mais te motiva em quadra?

Quando estou na quadra, não importa se só treinando, eu sou motivado pelo meu amor pelo jogo. Eu gosto de jogar e eu gosto de ser parte do time. Sou abençoado porque eu posso fazer o que amo e ainda sustentar minha família dar-lhes uma experiência única.

Como foi essa temporada da Unitri Uberlândia? Você considera que o time poderia ter chegado mais longe se não fosse a quantidade de lesões?

Esta última temporada foi dura em virtude de nossas lesões. Começamos muito fortes e as lesões nos atormentaram pelo resto da temporada. Eu realmente acho que sem elas teríamos conseguido chegar às finais, pelo menos.



Sua grande qualidade é o arremesso de 3 pontos, treina muito para isso ou é um dom?

Eu acredito que o meu tiro de 3 pontos é um resultado direto do treino. Eu dediquei inúmeras horas no treinamento dentro e fora da quadra.



Como você se sentiu ao fazer 50 pontos no Jogo das Estrelas 2011, e ser escolhido o MVP?

Antes de mais nada, apenas ser nomeado foi um privilégio, quanto mais ganhar o MVP. Isso aconteceu quando meu tiro estava certeiro e eu tinha ao meu redor um grupo de caras arrumando passes e me dando a bola. Foi desafiadoramente um dos melhores momentos da minha carreira.


Robert Day 50 pontos Jogo das Estrelas NBB 2011



Quando você converte uma cesta de 3, faz um gesto com os dedos. Isso é para quem?

Eu sou realmente muito próximo do Valtinho e da família dele e após um dos jogos o filho do Valtinho, André, me pediu para fazer um sinal para ele quando eu fizesse uma cesta de 3, então nós inventamos isso.   



O programa Vitoriosa Esporte fez uma pequena homenagem para você no vídeo Tal pai tal filho, onde mostra o Cooper te acompanhando no treinamento. Como pai, você pretende incentivar seus filhos a seguir alguma carreira no esporte, e até mesmo no basquete?

Como pai eu incentivo meus filhos a fazer o que eles gostam. Eu nunca tive alguém me precionando a jogar. A única coisa que minha mãe me disse é que se você começar algo, termine. E essa coisa vai ficar difícil e nem sempre será divertido, mas nada que valha alguma coisa, é fácil. Eu espero que eles pratiquem algum esporte, porque eu acredito que te ensina muitas lições de vida valiosas, bem como ensina a cuidar de seu corpo.


                                                                  Robert e Cooper Day: tal pai, tal filho

Qual a maior lição que você aprendeu como atleta e que pretende passar para seus filhos?

Eu realmente acho que a maior lição é a que minha mãe me ensinou. Nada que valha alguma coisa é fácil de conseguir. Basicamente, você conseguirá do basquete o que você dedicar a ele e eu acho que isso se aplica a basicamente qualquer coisa.



O que a tatuagem escrito “All Day” junto de uma bola de basquete no seu braço esquerdo representa?

A tatuagem é apenas um jogo de palavras. Há uma frase que as pessoas usam nos Estados Unidos, quando alguém faz um monte de coisas. Eles diriam que ele faz isso “o dia todo” (*em inglês, “all day”).  Então, com o meu sobrenome sendo Day (*dia) pareceu se encaixar.



Futuro: Quais são seus objetivos na vida profissional e pessoal?

Meus objetivos futuros no basquete são ganhar um, se não, inúmeros títulos. Fora das quadras, eu não tenho certeza do que eu gostaria de fazer depois do basquete. Eu gostaria de ter o basquete como uma parte da minha vida, seja treinando meus filhos ou outras crianças e jovens.

Deixe uma mensagem para seus fãs que pediram essa entrevista com você.

Fãs! Obrigado por todo o seu apoio nos últimos dois anos e espero que isso continue. Com toda a sua ajuda eu tenho certeza de que podemos trazer o Campeonato de volta para Uberlândia. DALE UNITRI!!!!!!













*Nota dos entrevistadores.

Tradução: Daniele Horta

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